Os "patos" de Venturi
- Dorely M. Calderón

- 20 de abr. de 2021
- 1 min de leitura
Atualizado: há 2 dias

Os “patos” de Venturi são aquelas construções que se esforçam tanto para parecer outra coisa que acabam esquecendo que são edifícios. Em vez de abrigar pessoas, atividades ou, quem diria, arquitetura, elas preferem encarnar literalmente um símbolo: uma bota que recebe hóspedes, uma loja em formato de cesta de piquenique gigante, um museu em forma de bule para chá, um prédio de escritórios em formato de peixe. É arquitetura que grita e se apresenta com banda sonora — porque sussurrar exigiria alguma sutileza.
Venturi os apresenta quase como espécimes antropológicos: criaturas que surgiram da ingenuidade comercial e da necessidade infinita de chamar atenção. São a antítese da sutileza arquitetônica. Nada de “menos é mais”; aqui “mais é mais” e, se possível, que seja maior que um caminhão e tão óbvio quanto um outdoor luminoso piscando.
No fundo, os patos são um lembrete um tanto irônico de que, quando a arquitetura tenta ser símbolo antes de ser espaço, ela corre o risco de virar exatamente isso: um objeto fotogênico, mas um pouco ridículo — como um pato gigante no acostamento, te olhando de cima, julgando silenciosamente o seu bom gosto.
Porto Alegre



Comentários